Sergio Cruz Lima

O poeta tímido

Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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"Não chores meu filho / Não chores, que a vida / É luta renhida; / Viver é lutar. / A vida é combate, / Que os fracos abate, / Que os fortes, os bravos, / Só pode exaltar". E conclui a Canção do Tamoio: "As armas ensaia, / Penetra na vida; / Pesada ou querida / , Viver é lutar. / Se o duro combate / Aos fracos abate, / Aos fortes, aos bravos, / Só pode exaltar". Assim escreve o maior poeta indianista do Brasil, vítima de um naufrágio no litoral do Maranhão, aos 41 anos.

Criador do indianismo romântico, temperamento tímido, vontade fraca, principalmente no amor, é em Coimbra, onde andava a estudar leis, que Antônio Gonçalves Dias tem o seu primeiro amor: a filha da hospedeira com a qual teria casado não o dissuadisse Alexandre Teófilo, um dedicado amigo. Logo uma rapariga do Mondego atrai os olhares do poeta. Porém, tal qual havia sucedido à primeira namorada, ele se esquece dela. No Rio de Janeiro conhece certa moçoila de olhos verdes, tutelada de um tio, major de gênio violento, que andava louco para livrar-se da sobrinha. Ele namora a moça, mas não se decide. O major intima-o a casar-se. E, como ele se mostra recalcitrante, desafia-o para um duelo. O desafio não é aceito. O vate desculpa-se. No Maranhão, o poeta conhecera uma jovem que chegara a pedir em casamento em carta dirigida à futura sogra, pois não tivera coragem para formular o pedido formalmente. No "Panteon Maranhense", volume III, pode-se ler a epístola. A recusa não demorou. A sogra não simpatizava com o pretendente. E o vate conformou-se, muito embora gostasse da moça e a despeito da namorada lhe haver insinuado claramente que a "arrancasse da casa paterna", censurando-lhe em carta a "falta de coragem". O poeta horrorizou-se só em imaginar-se raptor. Procurando um regaço para chorar, encontra consolo na Cidade Maravilhosa, desta vez em dona Olímpia Costa, com a qual se casou. Ainda desta vez não amava de verdade... Conta-se que a esposa, autoritária e mandona, somente o deixava receber visitas dos amigos, com a condição de não falar. O marido, contudo, punha-se a discutir e o vozerio ia do quarto do doente à sala. Dona Olímpia estugava o passo para surpreender os incautos. Achava o marido avisado pelo tacão da botina, muito encolhido e quedo, debaixo das cobertas. Ao retirar-se, não sem ralhar com abundância, dizia o poeta, aos visitantes, saindo debaixo das cobertas: "É muito boa esta minha mulher, mas abafa-me!"

Na verdade, o vate alimentou um grande amor. Foi em Lisboa, que uma vez se defrontaram o poeta e a sua amada, Don´Ana, ambos abatidos pelo amargor de suas vidas. Ele, arrependido de ter renunciado àquela que com uma só palavra sua se lhe entregaria para sempre. Desvairado pelo encontro, após tantos anos afastados, ele compõe as estrofes de "Ainda uma vez, adeus!" que, uma vez conhecidas de sua inspiradora, foram por ela copiadas com o seu próprio sangue.

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